Escolas de Brasília festejam o Dia da Consciência Negra

O Brasil é uma imensa diversidade — que se revela na paisagem e no povo. Já reparou como as pessoas daqui são diferentes umas das outras? Tem gente de pele parda, negra, branca, amarela… E as texturas do cabelo, então? Vão desde o mais liso até o mais crespo!  Tudo isso é fruto da miscigenação entre os diferentes povos que ocuparam as terras brasileiras durante o período da colonização: os europeus, os indígenas e os negros, que chegaram ao Brasil trazidos da África e contribuíram imensamente com a formação da cultura brasileira.
Para refletir sobre o papel dos negros na história e celebrar a diversidade cultural que eles ajudaram a trazer para o nosso país é que existe o Dia da Consciência Negra, celebrado na próxima quinta-feira (20). A data foi escolhida por conta da morte de um importante personagem histórico: o Zumbi — mas não é aquele dos filmes de terror! Esse Zumbi foi um importante guerreiro que combateu a escravidão e liderou o quilombo dos Palmares, um dos maiores e mais famosos da época. Zumbi dos Palmares, como ficou conhecido, morreu há muito tempo, lá em 1695, mas as conquistas dele ainda são lembradas e, até hoje, ele é reconhecido como um verdadeiro herói brasileiro.
Descobrindo a cultura africana

Isabele e Carlos, 10 anos coloriram máscaras africanas  (Gustavo Moreno/CB/D.A Press)
Isabele e Carlos, 10 anos coloriram máscaras africanas

A história da África está na ponta da língua dos alunos da Escola Classe 5, do Guará. Ou melhor… diante dos olhos! Em novembro, eles conheceram um pouco da cultura do continente e montaram um mural com máscaras típicas da arte africana. Não parou por aí: eles também assistiram a uma roda de capoeira, apresentada por professores e estudantes. Para Isabele Silva, 10 anos, celebrar a data é uma maneira de conhecer mais sobre as origens do Brasil.
— Estudei várias personalidades e achei muito legal pintar as máscaras. Conhecer a história é importante para conseguir conscientizar outras pessoas.
Carlos Eduardo Rodrigues, 10, também pintou uma máscara e se surpreendeu com a apresentação de capoeira.
— Eu nunca tinha visto assim, de perto. Foi a primeira vez. Gostei bastante e acho que deve ser muito difícil fazer os movimentos que eles fazem.
Mesmo quem já conhecia a mistura de dança com arte marcial gostou da apresentação. Marco Aurélio Pereira, 11, pratica capoeira há dois anos e cantou todas as ladainhas — como são chamadas as músicas tocadas nas rodas. Ele acha que ter um dia especial para falar sobre o tema é importante para acabar com o preconceito.
— Se não fosse a luta dos negros que vieram para o Brasil, não teríamos tanta liberdade, como temos hoje. Acho o preconceito uma bobagem e fico muito chateado que esse tipo de coisa ainda exista. Conhecer a nossa história ajuda a combater isso.
Dando pano para a… cabeça!
A moda no Jardim de Infância 603 do Recanto das Emas é enfeitar a cabeça e assumir a cabeleira! Eles aprenderam a lição com a história de Lelê, uma garota que questiona o porquê de ter o cabelo tão cheio de cachinhos. Assim como ela, os colegas conheceram a história da África e descobriram as semelhanças entre as pessoas daquele continente e as que moram no Brasil. O passeio reservou mais uma surpresa: eles aprenderam a usar turbantes — adornos feitos com tecidos na cabeça bastante comuns no norte e no leste da África. Joanna Tainá dos Santos, 4 anos, já conhecia o enfeite:
— Eu já tinha usado turbante porque a minha mãe sabe fazer. Acho que fica muito bonito. Também achei a história da Lelê muito linda.
Já Heloisa Lourenço, 6, nunca tinha usado um turbante, mas gostou de conhecer um pouco mais sobre a cultura africana.
— Eu sempre uso tiara, mas o turbante também é legal. Eu gostei muito das roupas que eles usam por lá também. Dá para usar os dois juntos.
A brincadeira não ficou só entre as meninas. Os meninos também ganharam tipos diferentes de turbantes para enfeitar a cabeça, como conta Thayson Barboza, 5:
— Eu já sabia que os meninos também podiam usar. Eu gostei porque não faz calor.

Para ler

 (Editora SM/Reprodução)

Homens da África
Ahmadou Kourouma
Edições SM, 160 páginas, R$ 49
O livro apresenta características culturais, religiosas e sociais dos habitantes da África do Oeste.

 (Editora Pequena Zahar/Reprodução)

Martin e Rosa: Martin Luther King e Rosa Parks, unidos pela igualdade
Raphaële Frier
Editora Zahar, 48 páginas, R$ 39,90
Conheça a história de Rosa Parks e Martin Luther King, que desafiaram a divisão entre brancos e negros nos Estados Unidos.

 (IBEP Nacional/Divulgação)

O cabelo de Lelê
Valéria Belém
Editora IBEP Nacional, 31 páginas, R$ 27,90
Lelê descobre que em cada cachinho de seu cabelo existe um pedaço da herança africana.

Um pouco de história
Da colonização para cá, muita gente passou a conhecer e ter orgulho das origens africanas, mas nem sempre foi assim. Por mais de 300 anos, os negros foram aprisionados e trazidos em navios negreiros para o Brasil, onde eram forçados a trabalhar nas fazendas de cana-de-açúcar ou nas minas de ouro. Naquele tempo, os negros não podiam expressar suas crenças e seus costumes e precisavam ficar escondidos para praticar os rituais religiosos, cantar as músicas e participar das danças típicas da cultura deles. Todo esse horror só acabou em 1888, quando a Princesa Isabel colocou um fim na escravidão, com a assinatura da Lei Áurea, dando aos negros o direito de serem livres.
Herança que vem de longe
Você sabia que várias coisas no seu dia a dia foram criadas no Brasil pelos africanos? Quando comemos aquela feijoada no final de semana, por exemplo, estamos saboreando um prato criado pelos escravos. Foi mais ou menos assim: os senhores das fazendas não gostavam de comer as orelhas, o rabo e os pés dos porcos, então ofereceram as partes para os escravos, que cozinharam tudo isso com o feijão e acabaram criando um prato tipicamente afro-brasileiro. Também podemos ver a herança daquela época quando assistimos à apresentação de uma escola de samba: a cuíca e o reco-reco são dois instrumentos musicais de origem africana. Até quando falamos deixamos à mostra a nossa origem! Várias palavras da língua portuguesa foram adaptadas do idioma falado pelos povos bantos, que moravam no litoral da África. Quer exemplos? Fubá, macaco, gangorra, moleque, dengo e bagunça são todas expressões de origem africana.O jeito dengoso, amoroso, do brasileiro também é uma herança dos africanos.

Minha escola também participa
Seu colégio também está comemorando o Dia da Consciência Negra? Então, envie um e-mail com foto, nome completo, idade e telefone para super.df@dabr.com.br. Você pode aparecer na próxima edição do seu caderno infantil.
Consciência na telona
No mês da consciência negra, os alunos do 6º ano do Centro de Ensino Fundamental 1 do Paranoá pararam para refletir um pouco sobre o preconceito. Eles assistiram ao filme Vista minha pele, dirigido por Joel Zito Araújo, no qual uma garota branca tenta ganhar votos num concurso de beleza da escola. Mas, nesse filme, a história do Brasil é contada de uma maneira diferente: na ficção, as pessoas brancas é que foram escravizadas durante a colonização e que sofrem, até hoje, com o preconceito. Veja a opinião de estudantes sobre o filme:

 (Fotos: Paula Braga/Esp. CB/D.A Press)


Marcos Paulo Pereira, 12 anos:

— Se eu estivesse no lugar da garota do filme, acho que teria desistido. Nos dias de hoje, algumas coisas mudaram, mas precisamos mudar mais ainda para acabar com o preconceito.

Rosilene Lourenço, 12 anos:
— A troca de lugares no filme é muito legal. Desde a escravidão, muita coisa mudou em relação ao preconceito, mas algumas pessoas ainda precisam se colocar mais no papel das outras.

Antonia Gabrielle, 12 anos: 
— Achei o filme muito interessante. Tratar alguém mal pode ter uma consequência muito séria. Muita gente ainda não tem consciência do quanto o preconceito é ruim.

Vitória Lourenço, 13 anos:
— Hoje são os negros que sofrem com o preconceito, e no filme é o contrário. Achei importante a troca de papéis, porque algumas pessoas ainda não conseguem se colocar no lugar do outro.

Camila Moreira, 11 anos:
— O filme é bom para fazer com que as pessoas tenham consciência e mudem as suas atitudes.  Quando você sente o que o outro passa, consegue entender e mudar.

João Victor dos Santos, 12 anos:
— Uma vez vi um vídeo de um homem tratando uma moça mal porque ela era negra. As pessoas que fazem isso precisam respeitar as diferenças.

(Do Correio Braziliense)