Trabalhador é contra Banco Central independente

Na última semana, a CNTE convocou sua categoria para participar do debate eleitoral em curso no país. O convite se deve ao fato de lidarmos, diariamente, com jovens, adultos e responsáveis por milhares de crianças que muitas vezes não dispõem de informações sobre as plataformas de cada candidato, seja à Presidência, seja ao Executivo estadual, e também aos parlamentos federal e estaduais. De modo que a presença dos/as professores/as e dos/as funcionários/as da educação nos 5.570 municípios do país é indispensável para ajudar a esclarecer a sociedade sobre as políticas que interferem no emprego, na renda, nas áreas sociais e, consequentemente, na qualidade de vida da população, a exemplo da temática de independência do Banco Central que adentrou a campanha presidencial.
Conforme anunciado amplamente pela imprensa, os candidatos Aécio Neves e Marina Silva já se manifestaram favoráveis à independência do Banco Central, o que favorece somente os rentistas, em prejuízo do país e da classe trabalhadora.
A política economia no Brasil ainda se ancora – a contragosto dos trabalhadores – no superávit primário, nas metas inflacionárias e no dólar flutuante – o chamado tripé macroeconômico. Pela cartilha neoliberal, o controle da inflação, invariavelmente, deve ocorrer pela contenção dos gastos correntes do governo (arrocho salarial) e pelo aumento da taxa básica de juros (Selic). E qualquer uma dessas políticas de austeridade, mesmo quando tomadas de forma independente, impactam negativamente a economia formal, aumentando o desemprego e diminuindo a renda dos trabalhadores, quando não, cortando “gastos” sociais.
Atualmente, o governo federal detém a prerrogativa expandir seus investimentos e gastos correntes, inclusive de custeio da máquina pública, e a interlocução com o Banco Central visa estabelecer taxas básicas de juros em patamares que não comprometam o mercado de trabalho, especialmente neste momento de crise internacional. Assim, tem se optado pela continuidade do processo de distribuição da renda com garantia do emprego.
Com a autonomia do Banco Central, o Governo não mais poderá interferir sobre os juros, que ficarão exclusivamente à mercê do mercado financeiro, expondo o país aos interesses da classe social mais abastada (banqueiros) e comprometendo a política expansionista do emprego e da renda. Lembremos que juros altos beneficiam rentistas e aniquilam o emprego, além de fazer crescer a dívida pública. Ou seja: a proposta de Banco Central independente se assemelha à condição da raposa que toma conta do galinheiro!
Em tempo: dados do DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos comprovam que 93% das categorias de trabalhadores no Brasil tiveram aumento de salário acima da inflação neste primeiro semestre de 2014. E isso revela que os trabalhadores, neste momento de menor desemprego da história do país, estão mais fortes que os patrões nas mesas de negociações. Contudo, com o aumento do desemprego – que certamente ocorre através de juros ao sabor de um Banco Central independente – essa realidade mudará e os patrões voltarão a explorar ainda mais a mão de obra assalariada.
A CNTE entende que, ao anunciar suas propostas, os candidatos precisam explicar as razões e as consequências das mesmas, pois política pública é feita com intencionalidades. E um Banco Central independente visa ampliar o poder do sistema financeiro sobre a economia nacional, fragilizando a produção, o emprego e a renda dos trabalhadores. Portanto, quem opta por essa política, definitivamente, não está do lado dos trabalhadores.